O setor jurídico está acelerando o uso de IA de modo irreversível

Mão robótica apontando para ícone de balança digital representando a aplicação de IA no setor jurídico

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Evento da C-Law trouxe mais de 40 painéis com executivos de grandes companhias e escritórios de renome e uma mensagem: “Quem não se inserir nesse processo vai ficar para trás”

O mercado jurídico brasileiro está passando por um processo acelerado, abrangente e irreversível de adoção de tecnologia e Inteligência Artificial. Em outras palavras, não se trata de uma moda que logo passará. Os profissionais que não estiverem envolvidos, ou não estão buscando se envolver, correm o risco de ficar para trás frente à concorrência. Nesse sentido, essa é a percepção que fica depois de acompanhar parte dos mais de 40 painéis do C-Law Experience e de conversar com executivos e expositores do setor jurídico brasileiro.

Passei os dias 9 e 10 de junho entre palestras, apresentações de casos de uso em três salas de conferências, bate papos informais com líderes de renomados escritórios, departamentos jurídicos de grandes companhias e de empresas de tecnologia. Portanto, o que vi e ouvi evidencia um Brasil adotando IA em ritmo acelerado, nas operações jurídicas contenciosas e consultivas. As tendências identificadas você pode conferir mais abaixo.

Executivos jurídicos indicam os riscos de não adotar IA

O C-Law é um evento que apresenta a perspectiva de executivos do setor jurídico. Eles lidam diariamente com grandes operações, seja por conta da quantidade de ações judiciais ou documentos, seja por conta do volume de recursos financeiros em jogo, em um cenário de forte concorrência.

“Evoluções tecnológicas rápidas e repentinas podem prejudicar quem não está inserido, quem não utiliza a tecnologia ou a inteligência artificial, ou quem prefere esperar a maturação das ferramentas”, afirmou José Mauro Machado, sócio no Pinheiro Neto Advogados, no painel Como a Tecnologia e a IA estão Redesenhando o Contencioso.

“Essas pessoas podem se encontrar em situação desfavorável, com concorrentes à frente e sem conseguir competir adequadamente.”

Painel no C-Law Experience com especialistas discutindo o uso de IA no setor jurídico

Experimentação e desafios

A adoção de tecnologias e IA enfrenta desafios de várias ordens. Entre eles, os executivos veem a necessidade de quantificar o valor da IA para viabilizar operações.

“É necessário comprovar a importância de investir em ferramentas de IA e avaliar onde a tecnologia pode, de fato, gerar impacto e valor significativo para a empresa”, explicou Solange Sartorelli, diretora no Mascarenhas Barbosa Advogados, no painel Case CPJ-3C: Inteligência Artificial para Legal Ops.

A cultura organizacional também impacta. Afinal, é comum as organizações terem dificuldades em introduzir novas tecnologias em seus processos por causa de resistências internas.

“O maior problema na verdade é cultural. As pessoas estão em diferentes estágios de aceitação e valorização da tecnologia. Um grande esforço deve ser dedicado à cultura para que as pessoas acreditem no valor que a tecnologia oferece”, afirmou Cinthia Nespoli, CEO da Pearson Brasil e Diretora Jurídica Global da Pearson, no painel O Futuro do Gestor Jurídico: Desafios e Estratégias para a Ascensão nas Empresas.

Além disso, quando se trata especificamente de IA, há dificuldades em garantir dados de qualidade para que os resultados sejam satisfatórios. O treinamento de IA muitas vezes precisa lidar com diversas bases de dados diferentes que não se comunicam (silos de dados), o que se torna um desafio adicional para o uso eficiente de ferramentas.

As barreiras de uso, entretanto, vêm sendo resolvidas pelos executivos por meio da experimentação e aprendizado. Em litígios, ferramentas de IA são usadas para automação de contestações judiciais com alta precisão, identificação de fraudes documentais, entre outras atividades.

No consultivo, sistemas de gestão do ciclo de vida dos contratos (CLM) vem permitindo fluxos de trabalho personalizados, acesso rápido a informações críticas e automação na criação de documentos e revisão de contratos.

A experiência brasileira apresentada no C-Law demonstra que ferramentas de IA estão transformando significativamente o papel desempenhado pelos profissionais do direito. De um elaborador repetitivo de documentos as funções do advogado estão se movendo para o papel estratégico de curador de inteligência jurídica. 

“A ferramenta muda o papel do advogado, que passa a ser um curador de conteúdo, verificando se a informação da ferramenta está correta e atualizada, e se a tese proposta à aderente à legislação”, avaliou o executivo jurídico Fernando de Camargo Prado, no painel Case Pepsico: O que Aprendemos Aplicando IA Generativa no Jurídico.

Infográfico sobre como a inteligência artificial está transformando o setor jurídico

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Tendências no mercado de tecnologia jurídica

Trazemos a seguir tendências que identificamos no conjunto das palestras.

  • Irreversibilidade: A adoção de IA é vista como irreversível, inegociável e inevitável, sendo um imperativo de mercado. Empresas ou escritórios que não a utilizarem rapidamente podem perder competitividade.
  • Desafios na Adoção: Incluem a quantificação do valor da IA (ROI), lidar com dados em silos e garantir sua qualidade, a resistência cultural e o medo da tecnologia, a necessidade de “tradutores” entre o jurídico e a tecnologia, e a prevenção de “alucinações” da IA.
  • Uso no Contencioso: Ferramentas de IA são usadas para automação de contestações judiciais com alta precisão, identificação de fraudes documentais, análise de dados externos (condições climáticas, operações aeroportuárias), e estratificação de informações não estruturadas de documentos.
  • Uso na Gestão de Contratos (CLM): Sistemas CLM permitem fluxos de trabalho personalizados, integração com ferramentas internas, acesso rápido a informações críticas e automação de criação e revisão de contratos.
  • Gestão e Insights: Dashboards, BI e modelos preditivos são cruciais para monitorar demandas, gerir precedentes, identificar a causa raiz de problemas, e fornecer insights estratégicos para o negócio.
  • Segurança e Governança de Dados: A segurança da informação é fundamental na implementação da IA, com foco em ambientes controlados, criptografia, proteção contra vazamento de dados estratégicos e governança baseada em confiança (responsabilidade, transparência, aplicabilidade).
  • Necessidade de Adaptação dos Advogados: Com a IA filtrando processos e as decisões se tornando cada vez mais digitais, advogados precisam adaptar suas estratégias para garantir que seus casos recebam atenção humana.

FAQ: Uso de IA no setor jurídico

1. O que é IA no setor jurídico?

Em síntese, é a aplicação de tecnologias de inteligência artificial para automatizar tarefas jurídicas, analisar dados legais e apoiar decisões estratégicas, tanto em contencioso quanto no consultivo.

2. Como a IA está transformando os escritórios de advocacia?

A IA permite automação de petições, gestão de contratos, análise preditiva de litígios e maior controle estratégico de dados jurídicos, tornando o trabalho mais eficiente e assertivo.

3. Quais são os principais desafios da adoção de IA no Direito?

Sobretudo, resistência cultural, dificuldade de integração de dados, mensuração de ROI e necessidade de governança e segurança da informação.

4. Os advogados vão ser substituídos por IA?

Não. Assim, a IA transforma o papel do advogado, que passa a atuar como curador de inteligência jurídica, focando em estratégia, análise crítica e validação das informações automatizadas.

5. Por que a adoção de IA é considerada irreversível?

Porque grandes corporações e escritórios já estão colhendo resultados expressivos em produtividade e competitividade. Portanto, a não adoção representa perda de mercado e obsolescência.

Software jurídico, negocial e inteligência artificial em um só lugar

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Rhodrigo Deda

Head de Novos Negócios, advogado, jornalista, doutor em engenharia de software, mestre em tecnologia e sociedade, especialista em direito processual civil.

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