Peças jurídicas automatizadas: ganho de tempo com responsabilidade na IA

A automação de peças jurídicas com IA oferece agilidade e eficiência, mas exige responsabilidade, qualidade técnica e ética profissional.
Interface digital com ícones de Justiça, IA e perfil jurídico, tocada por uma mão.

Indice

A automação jurídica tem transformado profundamente a prática do Direito. Com o auxílio de ferramentas digitais, a produção de peças jurídicas tornou-se mais ágil, padronizada e eficiente. Para muitos advogados, trata-se de um verdadeiro alívio na gestão do tempo e das tarefas repetitivas. No entanto, junto com os benefícios, surgem também riscos que já geram consequências reais e preocupantes — e não dá para ignorá-los.

Neste artigo, você entenderá como equilibrar produtividade jurídica e responsabilidade na automação jurídica, evitando erros que podem comprometer a credibilidade profissional e até gerar sanções legais.

O que são peças jurídicas automatizadas?

A automação de peças jurídicas refere-se ao uso de tecnologias, como inteligência artificial e modelos pré-formatados, para a criação de documentos legais — desde contratos até petições. Estas ferramentas permitem a inserção automática de dados, a referência a normas legais e, por vezes, até a sugestão de argumentos com base em jurisprudência

Para quem atua num ambiente de alta pressão e prazos apertados, a automação é uma aliada valiosa: 

  • Eficiência operacional: reduz drasticamente o tempo de produção de peças. 
  • Padronização: melhora a consistência dos documentos jurídicos
  • Redução de erros materiais: como falhas de digitação, formatação ou omissão de cláusulas. 
  • Libertação de tempo: para que o advogado se dedique a tarefas estratégicas, como análise de mérito, atendimento ao cliente ou desenvolvimento de teses jurídicas.
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Os riscos: confiança cega pode sair caro

Apesar dos benefícios, é essencial lembrar que a automação não substitui o juízo crítico do advogado. O uso irresponsável de ferramentas de IA pode levar à inclusão de artigos de lei inexistentes ou jurisprudência inventada nas peças processuais — algo que, infelizmente, já começou a ocorrer. 

Recentemente, no Brasil, um juiz multou um advogado por apresentar uma petição com jurisprudência e artigos fictícios gerados por IA. Para o juiz federal Igor de Lazari Barbosa Carneiro “o advogado agiu de forma irresponsável ao utilizar a tecnologia sem a devida verificação do conteúdo gerado, violando parâmetros definidos pelo CNJ e pelo Conselho Federal da OAB”. 

Diante da conduta, foram aplicadas duas multas de dez salários-mínimos, uma por litigância de má-fé e outra por ato atentatório à dignidade da Justiça. A decisão também determinou o envio de ofício à OAB do Paraná para as providências disciplinares cabíveis.

O juiz alertou para a responsabilidade do profissional, mesmo quando utiliza tecnologia: “A utilização de IA não exime o subscritor de responsabilidade”. 
 
Este caso serve de alerta para todos os operadores do direito. A confiança cega na tecnologia pode comprometer a credibilidade do profissional, prejudicar o cliente e até resultar em sanções processuais sérias. 

Na verdade, não se trata de um caso isolado. Já existem vários julgados recentes — em que advogados foram advertidos, multados ou tiveram manifestações desconsideradas por apresentarem peças com informações jurídicas falsas, como jurisprudência inexistente ou artigos de lei que não constam nos ordenamentos legais. Em todos esses casos, os tribunais destacaram que o uso de inteligência artificial não exime o advogado da responsabilidade pelo conteúdo assinado. 

O crescimento destes precedentes demonstra a urgência de uma utilização ética e criteriosa das ferramentas digitais. O advogado continua a ser o fiador da veracidade, da adequação e da qualidade técnica de cada peça que subscreve.

Laptop com tela aberta no ChatGPT, sobre mesa de madeira em ambiente de trabalho jurídico

Como usar a automação de forma responsável?

Para garantir a segurança jurídica e a credibilidade da atuação profissional, é fundamental adotar critérios técnicos e éticos ao usar a automação. Veja algumas orientações:

  1. Valide sempre a informação: antes de submeter qualquer peça, confirme se os artigos citados existem e se a jurisprudência é real e aplicável. 
  2. Escolha ferramentas confiáveis: prefira soluções jurídicas específicas, com bases legais atualizadas e suporte técnico. 
  3. Não abdique da revisão humana: finalize cada peça com uma leitura crítica e jurídica. 
  4. Forme a sua equipa: garanta que todos os colaboradores compreendem os limites da automação. 
  5. Esteja atento à ética profissional: a integridade da profissão depende do compromisso com a verdade jurídica.

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Tecnologia como aliada, não substituta

Diante deste cenário, é fundamental que os profissionais do Direito escolham plataformas seguras, confiáveis e alinhadas com a realidade legal e jurisprudencial vigente. A tecnologia deve ser uma extensão da prática jurídica — e não um risco à sua integridade. 

A inteligência artificial é, sem dúvida, uma aliada poderosa na automação de peças jurídicas. Quando bem utilizada, liberta o advogado das tarefas repetitivas e abre espaço para um exercício mais estratégico e humanizado da profissão. 

No entanto, é preciso responsabilidade: não basta acelerar o caminho, é necessário saber conduzir. 

Assim como um carro potente exige um condutor atento, as ferramentas de IA exigem um jurista consciente, ético e tecnicamente preparado. Porque o futuro do Direito não será digital por acidente — será digital por decisão.

Banner do CPJ-3C com chamada para automatização de peças jurídicas com agilidade e segurança

FAQ: Automação de peças jurídicas com IA

1. A automação de peças jurídicas é permitida pela OAB?

Sim, a automação é permitida. Contudo, desde que o advogado mantenha responsabilidade técnica sobre o conteúdo e siga os princípios éticos da profissão. A OAB alerta que o uso de IA não isenta o profissional de revisar e validar os documentos.

2. Quais são os principais riscos de usar IA na produção de peças jurídicas?

Os riscos incluem: uso de jurisprudência inexistente, artigos de lei falsos, perda de personalização em casos complexos, e até sanções disciplinares por má-fé ou desatenção.

3. Posso confiar em ferramentas de IA gratuitas disponíveis online?

É preciso cautela. Ferramentas genéricas nem sempre têm base jurídica válida no Brasil. Priorize softwares jurídicos especializados, com atualização constante e suporte técnico.

4. Quais tipos de documentos são mais indicados para automação?

Petições iniciais repetitivas, notificações extrajudiciais e contratos padrão são bons candidatos. Entretanto, o advogado deve adaptar manualmente as peças com alto grau de complexidade ou estratégia.

5. Como uma equipe de advocacia pode começar a automatizar com segurança?

Mapeie as peças mais repetitivas, defina modelos revisados por advogados, adote uma ferramenta confiável e promova treinamentos internos para garantir o uso correto e responsável da automação.

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Priscilla Oliveti

Advogada especializada em Recuperação Judicial e Empresarial. Atua na reestruturação de empresas e negociações complexas com foco em soluções eficazes.

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